08 junho, 2006

Uma palavra amiga aos alunos do 12.º ano

Com os exames à porta, a saída desta escola assume-se como a mais natural das situações para os alunos finalistas. Por isso, quero deixar-vos aqui votos para que tudo vos corra pelo melhor. Não se poupem ao trabalho necessário e acreditem que são capazes.
Amanhã, na universidade, nas empresas assumam-se como pessoas que contam e que fazem a diferença.
E como uma singela homenagem, deixo-vos com as palavras em esboço de poema que vos li no dia da apresentação do vosso Livro de Curso.

Porque a vida de estudante nunca se esquece

Naquele dia quando vinha da escola
ao passar no posto de controle da polícia
João foi revistado
E dos bolsos das calças já coçadas
Foi retirando um a um
os objectos que trazia
cada um deles
vinha agarrado a uma pequena história

Aquele canivete suíço
Feito no Bangladesh
Tinha marcado na pele das faias as façanhas românticas
E esculpido um coração trespassado de amor

O isqueiro, esse tinha a culpa
de ter acendido um vício incómodo

O relógio de corrente que o avô lhe dera
Cruzou muitas vezes o tempo e a vida
Em esperas e desesperas

A parker de tinta permanente
ganha no último aniversário
lavrou em inspirada caligrafia
os esboços dum secreto poema

O bloquinho de notas de capas negras
Guardava a memória dos últimos anos
Da sua vida – corrente inesgotável
Caminhada heróica para se fazer homem
E demanda incansável da pessoa que se habita.
Nele
Lembrava os amigos
As expectativas e as desilusões
E envoltas em névoa
as palavras queridas
dos que se despediram de si.

Por isso o pouco que saiu daqueles bolsos
Encerrava um mundo inteiro
Que enchia os seus últimos anos do liceu.
Então João soube que não era assim tão pobre.

PS. Sejamos João, Joana, Álvaro ou Zacarias, Cristóvão ou Cristina, todos ao sairmos da escola levamos um mundo connosco que jamais se perderá.
Manuel Guimarães.
Façam o favor de ser felizes!

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao Prof. Manuel, que não conheço, os meus parabéns por ser um professor-poeta que revela de forma tão eloquente o "carinho" pelos seus alunos.

Anónimo disse...

Parabéns, Professor. Simplesmente belo e profundo teu texto. Aliás todos q escreve têm tais características. Sorte nossa q sempre podemos vir aqui apreciá-los sem nenhuma moderação!